4 Sonetos de Meditação = Four Sonnets Meditation



  I


Mas o instante passou. A carne nova 
Sente a primeira fibra enrijecer 
E o seu sonho infinito de morrer 
Passa a caber no berço de uma cova. 

Outra carne vírá. A primavera 
É carne, o amor é seiva eterna e forte 
Quando o ser que viver unir-se à morte 
No mundo uma criança nascerá. 

Importará jamais por quê? Adiante 
O poema é translúcido, e distante 
A palavra que vem do pensamento 

Sem saudade. Não ter contentamento. 
Ser simples como o grão de poesia. 
E íntimo como a melancolia. 



TRANSLATION ENGLISH


But the time passed. The new meat
Feel the tense first fiber
And his infinite dream of dying
Starts to fit in the cradle of a pit.

Another will come meat. spring
It's meat, love is eternal and strong sap
When the living being who join the death
A child born in the world.

Never matter why? on
The poem is translucent, and distant
The word comes from the thought

Without nostalgia. Do not be content.
Be as simple as a grain of poetry.
And how close melancholy.







II

Uma mulher me ama. Se eu me fosse 
Talvez ela sentisse o desalento 
Da árvore jovem que não ouve o vento 
Inconstante e fiel, tardio e doce. 

Na sua tarde em flor. Uma mulher 
Me ama como a chama ama o silêncio 
E o seu amor vitorioso vence 
O desejo da morte que me quer. 

Uma mulher me ama. Quando o escuro 
Do crepúsculo mórbido e maduro 
Me leva a face ao gênio dos espelhos 

E eu, moço, busco em vão meus olhos velhos 
Vindos de ver a morte em mim divina: 
Uma mulher me ama e me ilumina. 




TRANSLATION ENGLISH


A woman loves me. If I were
Maybe she felt the gloom
Tree young man who does not hear the wind
Fickle, faithful, slow and sweet.

In its later flowering. a woman
Love me like the flame loves the silence
And his victorious love wins
The death wish that I want.

A woman loves me. When the dark
Twilight morbid and mature
Take me to the genius of the face mirrors

And I, boy, I look in vain my old eyes
Coming to see the dead in me divine:
A woman loves me and enlightens me.





III

O efêmero. Ora, um pássaro no vale 
Cantou por um momento, outrora, mas 
O vale escuta ainda envolto em paz 
Para que a voz do pássaro não cale. 

E uma fonte futura, hoje primária 
No seio da montanha, irromperá 
Fatal, da pedra ardente, e levará 
À voz a melodia necessária. 

O efêmero. E mais tarde, quando antigas 
Se fizerem as flores, e as cantigas 
A uma nova emoção morrerem, cedo 

Quem conhecer o vale e o seu segredo 
Nem sequer pensará na fonte, a sós... 
Porém o vale há de escutar a voz. 




TRANSLATION ENGLISH


The ephemeral. But a bird in the valley
He sang for a moment before, but
The valley still shrouded listen in peace
For the voice of the bird will not shut up.

And a future source, today primary
Within the mountain erupt
Fatal fiery stone, and will
At the voice melody necessary.

The ephemeral. And later, when old
If you do the flowers and the songs
The new excitement to die sooner

Those who know the valley and its secret
Do not even think of the source alone...
But the valley's listen to the voice.







IV

Apavorado acordo, em treva. O luar 
É como o espectro do meu sonho em mim 
E sem destino, e louco, sou o mar 
Patético, sonâmbulo e sem fim. 

Desço na noite, envolto em sono; e os braços 
Como ímãs, atraio o firmamento 
Enquanto os bruxos, velhos e devassos 
Assoviam de mim na voz do vento. 

Sou o mar! sou o mar! meu corpo informe 
Sem dimensão e sem razão me leva 
Para o silêncio onde o Silêncio dorme 

Enorme. E como o mar dentro da treva 
Num constante arremesso largo e aflito 
Eu me espedaço em vão contra o infinito.




TRANSLATION ENGLISH


Terrified agreement in darkness. moonlight
It's like the specter of my dream in me
And no destination, and crazy, I am the sea
Pathetic, sleepwalking and without end.

I go downstairs at night, wrapped in sleep, and arms
Like magnets, attract the firmament
While witches, old and lecherous
Whistle me in the voice of the wind.

I am the sea! I am the sea! my body tell
Dimensionless and takes me for no reason
To silence where silence sleeps

Huge. And like the sea in the darkness
A constant pitch off and upset
I break in vain against the infinite.





Vinícius de Moraes in Oxford/British Kingdom 1946

OBS:



Comentários

Postagens mais visitadas