Do Nosso Século

No fascinante livro “Ismael”, Daniel Quinn compara a civilização moderna
com um avião que se atirou de um precipício. A princípio, os
passageiros acham que estão voando, que a máquina está funcionando,
que eles estão planando no céu. Só com a visão do chão
do abismo a se aproximar é que se dão conta que o avião sempre
esteve em queda livre.

Argumentando sobre tal visão, poderiam dizer que, se esse modelo
de civilização dominante não é o único que existe, sua proporção
planetária e prosperidade o elegem como melhor representante
da natureza humana. Sem exatamente discordar, eu diria que essa
“prosperidade” deixa a todos fragilizados: o Terceiro Mundo explorado
e os supostos “senhores” do mundo confinados atrás das grades
de seus condomínios, mimados e dependentes da imensa maioria
como fornecedora de serviços básicos. Este é, portanto, um sistema
de escravos, ao longo de toda sua linha de montagem.


Ainda assim, diriam que este é o homem: violento, competitivo, destruidor.
Portanto, talvez seja natural que ele se cause sofrimento, se
extinga, ou que poucos acabem sobrevivendo. E que esta seria a
aplicação da lei dos fortes. Talvez. Mas este é apenas um lado da
moeda. A Natureza também é um tecido de organismos realizando
conjuntamente funções microscópicas que resultam na fartura da
vida. Então, a Natureza é também cooperativa. Logo, o homem não
é “naturalmente” competitivo nem cooperativo. Ele é ambos. Se cultuamos
simplesmente Marte, adoeceremos, como um organismo
tendo overdose de uma substância que, em equilíbrio com Vênus,
seria o elixir da vida. O culto da competição trará consequências
humanas e ambientais na mesma intensidade que o dano infligido
por sua prática.

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